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As crianças mimadas vão conseguir acabar com o mundo?

Como as sombras da infância e suas ausências emocionais têm moldado o julgamento de líderes e ameaçado o futuro das empresas em um mundo desigual.


Li recentemente sobre uma potencial investida de Elon Musk em comprar a Disney, juntamente com seu amigo investidor, Mr Peltz, motivados por desafetos e pelo ponto de vista de que a companhia, ao investir em políticas e ações afirmativas de diversidade e inclusão, estaria sendo sexista e racista, por, segundo ele, contratar pessoas apenas pautada no critério de fazerem parte destes grupos.


É óbvio que como consultora ESG, conselheira, defensora e ativista dos direitos humanos eu discordo completamente da posição dele, justamente por entender em detalhes como o discurso do “racismo reverso” e do “sexismo às avessas” é completamente absurdo e impossível de ser validado, face a inúmeros dados socioeconômicos que nos confirmam a urgência, impactos positivos e necessidades de termos ações intencionais como políticas de inclusão dentro das empresas. 


Aproveito para destacar que meu objetivo hoje não é trazer uma lista infinita de indicadores para quebrar o argumento dele (posso trazer em outros artigos), meu desejo hoje é de apontar uma reflexão em outra direção, para olharmos coletivamente a importância do papel das emoções na tomada de decisões, especialmente para decisores estratégicos como C-levels, conselheiros e investidores.


Ao propor no título “a culpa ser das crianças mimadas”, quero provocar reflexões sobre como as ausências emocionais que muitos adultos ainda carregam dentro de si enquanto, apesar de terem acessado riqueza e abundância de recursos na infância. Precisamos estar atentos sobre como as emoções e carências da infância, muitas vezes negligenciadas, podem lançar longas sombras sobre o julgamento exercido por cada um de nós enquanto adultos, moldando comportamentos e perspectivas de maneiras nem sempre conscientes.


O largo histórico de posturas controversas de Musk, marcado por decisões impulsivas e egocêntricas, bem como de outras lideranças executivas, podem ser vistos como um reflexo de traumas e carências da infância, e se não conscientes e resolvidos pessoalmente, podem ter um impacto ainda mais arriscado se analisado o poder bélico desses tomadores de decisão dentro de um contexto global que segue nutrindo crescentes desigualdades.

Você já parou para refletir como muitas decisões a nível executivo podem ser impostas pela relação vaidosa e competitiva quando envolvem lideranças que em seu passado possam ter sido negligenciadas em suas infâncias?


Os vieses motivados por traumas ou carências emocionais podem ocupar posições altamente perigosas nos momentos de tomada de decisões estratégicas, especialmente quando o volume de capital é tão expressivo que pode estar a frente das maiores riquezas do mundo. 


Deixaremos a vaidade agir como Bússola Empresarial em um Mundo Desigual?


Segundo Freud, "a criança é o pai do homem", e as experiências da primeira infância moldam a personalidade e as relações interpessoais do adulto, logo, muitos dos nossos vieses e tomadas de decisão enquanto gestores, receberão influência do nosso inconsciente que foi principalmente influenciado na infância, o que pode ser extremamente nocivo e até letal, dependendo do nível de poder de quem está carregado por esses vieses.


Destaco mais uma vez de que apesar de não pretender usar este artigo para aprofundar sobre o perfil psicanalítico de Musk e outros líderes, como sou e estou sempre curiosa pela origem dos problemas, me questiono sobre o que pode, em sua origem mais profunda, seguir conduzindo nosso planeja para a realidade na qual 5% dos mais ricos do planeta concentraram 114% a mais de suas fortunas desde 2020, enquanto 5 bilhões de pessoas ficaram mais pobres. Onde seguimos errando recorrentemente para que o juízo de valor por trás dessa verdade siga motivando uma gestão tão desigual de recursos e oportunidades?


Embora não tenha uma resposta definitiva ainda, revisitando meus cadernos de estudo sobre psicanálise e relendo também sobre a posição de Lacan, que destaca a importância da nomeação das emoções para a construção da identidade, reflito sobre como a criança que não tem suas emoções validadas e nomeadas pode ter dificuldade em desenvolver a capacidade de simbolizar e regular suas próprias emoções e assim acabar se tornando mais propensa a agir de forma impulsiva e egocêntrica na vida adulta e é justamente para este risco que quero apontar e provocar você a refletir também.


Como também sou mãe e responsável por formar alguns dos líderes do futuro (meus dois filhos, Kiara de 7 anos e Kauã de 5), comecei a deduzir sobre a importância do cuidado emocional na infância e como olhar para a lógica da boa educação emocional neste período tem um profundo potencial de impacto nas estratégias futuras de enfrentamento às desigualdades e desenho de melhores modelos de gestão nas empresas.


Mesmo sem certeza absoluta dos rumos do futuro, mas ciente da parcela de responsabilidade que me cabe, no processo de contribuir com treinamentos e formações para lideranças executivas no presente, através dos meus serviços e do meu papel de importância na formação e influência dos meus pequenos futuros líderes, sigo com a forte crença de que prevenir a formação de figuras de lideranças vaidosas e egocêntricas pode sim, ser um caminho factível. 


Como proposta de solução acredito fortemente na importância e necessidade de formarmos mais líderes humanizados, capazes de reconhecer e lidar com suas próprias emoções, além de cultivar a empatia e a responsabilidade afetiva nas relações interpessoais, combatendo a lógica da acumulação desenfreada que beneficia poucos em detrimento da maioria.


Investirmos na formação de Lideranças humanizadas, ambientes saudáveis, fortalecer a participação de membros de conselho que tenham um olhar e compromisso com questões relacionadas à diversidade e também ajudem a orientar a visão das empresas para o combate a desigualdades conforme muitos indicadores ESG coadunam, poderá ajudar a reverter mais um dos dados chocantes expostos no mapa das desigualdades divulgado pela Oxfam Brasil, que destacou como 129 milhões de brasileiros vivem em condições precárias e sem acesso digno a condições de emprego e renda, ao mesmo tempo em que a riqueza segue concentrada entre poucos extremamente ricos; já que 80% dos lucros destas organizações se mantém indo parar nas mãos dos acionistas, aprofundando assim, disparidades socioeconômicas.


Sustentabilidade e Dignidade Humana como vetores de economias e sociedades fortes


Apesar de comumente dissociarmos o papel e a responsabilidade das empresas no enfrentamento às desigualdades sociais, gostaria de semear neste texto alguns potenciais caminhos para que possamos sim, pensar em formas de crescimento e desenvolvimento econômico e sustentável para organizações privadas, com grande impacto socioeconômico positivo a nossa sociedade. 


Ao pensar na sustentabilidade na gestão de empresas, pode-se ir além de práticas superficiais e assistencialistas e abraçar um olhar estratégico que reconhece a importância da dignidade humana e da responsabilidade social. 

Empresários, gestores e membros de conselhos podem direcionar atenção e visão estratégica para cuidar do bem-estar dos seus colaboradores, podem promover ambientes de trabalho seguros e psicologicamente saudáveis e cultivar relações interpessoais baseadas na responsabilidade afetiva e conduzir estas agendas não apenas como medidas humanitárias, mas também investimentos estratégicos que garantem a longevidade e o sucesso das empresas, em um mundo que precisa urgentemente reverter o abismo entre ricos e pobres.


Outro ponto de argumentação e visão estratégica é de que, quanto mais pessoas saudáveis, economicamente ativas, com condições dignas de vida, conscientes de sua contribuição para os impactos socioambientais e comprometidas umas com as outras tivermos, mais fortes poderão se tornar as organizações, mais justa será a distribuição de renda e recursos, mais clientes as empresas passarão a ter e menores serão os abismos econômicos e sociais ao redor do planeta. 


Por fim, destaco aqui como líderes corporativos que adotam uma abordagem sustentável tem um poder de não apenas promoverem ambientes de trabalho mais saudáveis e produtivos, mas também a capacidade de fortalecer relações com consumidores e contribuírem para uma economia mais estável e inclusiva a longo prazo.


Espero que essa chuva de provocações e mais dúvidas do que resposta, inspire e motive algumas pessoas para que juntos possamos seguir avançando no fortalecimento de valores das lideranças atuais; investindo coletivamente no fortalecimento emocional das crianças e jovens, nossos líderes do futuro e assim possamos construir sociedades e organizações melhor preparadas e sustentáveis no médio e longo prazo, superando os desafios de ter que lidar com batalhas de egos e vaidades motivadas pelas crianças mimadas e negligenciadas no passado, dando espaço para lideranças fortes emocionalmente e melhor preparadas para o futuro.

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